Hospital em casa
A vida de Marcelo Ramos, dono de uma empresa de serviços gráficos, mudou drasticamente há quatro anos, quando sofreu um assalto a mão armada. Ramos levou um tiro na coluna cervical e ficou tetraplégico. Hoje, aos 26 anos, depende de um respirador mecânico e de atendimento de enfermagem 24 horas por dia. Mas Ramos não fica enclausurado num quarto de hospital. Ele utiliza os serviços de uma home care - empresa que oferece assistência médica na casa do paciente. Os gastos são cobertos pelo seguro-saúde.

A empresa que o atende, a Home Doctor, reproduz as mesmas condições de internação do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, onde ele permaneceu por seis meses, dois dos quais na UTI. "Hoje não me imagino num hospital. Em casa, trabalho na hora que quero", diz Ramos, cujo quadro clínico é o mesmo do ator americano Christopher Reeve, o Super-Homem do cinema. O ator ficou tetraplégico após cair de um cavalo em 1995 e também recebe assistência domiciliar 24 horas.

A exemplo de Reeve, que não parou de trabalhar, Ramos mantém o ânimo e o espírito empreendedor. Do seu quarto se comunica com o mundo - dita até cartas para Reeve, que criou uma fundação para ajudar nas pesquisas sobre a regeneração da medula espinhal. Por telefone, Ramos administra a área comercial de sua empresa, a Gráfica Ramos, fazendo contatos com novos clientes. "Em casa ele não corre o risco de contrair infecções hospitalares, como a pneumonia", diz a médica-visitadora Selma Veullieme.

A Home Doctor é uma das maiores entre as 155 empresas de home care do Estado de São Paulo. Juntas, essas empresas detêm 54% do mercado nacional. Assistem 2 700 pacientes, de um total de 5 000 no país. Com seis anos de vida, a Home Doctor surgiu de uma bem-sucedida experiência de estruturar a assistência médica domiciliar para os empregados da Volkswagen, em São Bernardo do Campo. Tem hoje mais de 800 funcionários, quatro filiais e clientes como Bradesco Saúde, Marítima Seguros, Sul América e Unibanco, além da Volkswagen. Faturou 25 milhões de reais em 2000, 39% mais que no ano anterior.

Outra empresa, a Pronep, do Rio de Janeiro, abriu sua unidade em São Paulo há apenas um ano e meio. Faturou 21,6 milhões de reais em 2000, dos quais 30% em São Paulo. A capital também responde por 50% dos negócios da Medilar, outra empresa carioca, controlada pelo grupo Icatu. Com cinco filiais, foi a primeira grande empresa de home care a se instalar em São Paulo. Atende 150 pacientes por dia e faturou 25 milhões de reais no ano passado.

Franquias americanas

O home care surgiu nos Estados Unidos no início da década de 80. Hoje as 21 000 empresas naquele país faturam mais de 50 bilhões de dólares por ano com a assistência domiciliar. No Brasil, o home care ainda engatinha. São apenas 250 empresas, que movimentam 240 milhões de reais por ano, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Medicina Domiciliar (Abemid). Os números são modestos, mas as empresas de home care estão com a faca e o queijo na mão. É que esse sistema agrega três fatores positivos à engrenagem da saúde privada: redução dos custos no atendimento, melhor qualidade de vida para os pacientes e maior rotatividade nos leitos dos hospitais. "Em três anos existirão 2 000 empresas de home care no país", diz Ricardo Fontana, diretor da Rimed, distribuidora de produtos farmacêuticos e hospitalares.

Uma notícia animadora é a vinda de franquias estrangeiras. Uma das que estão desembarcando no país é a americana Interim Home Care. Com 128 filiais e 222 franquias nos Estados Unidos, a empresa planeja abrir 20 franquias no Brasil em cinco anos. Uma delas já funciona há três em Recife.

Entre os fatores que fazem de São Paulo o maior mercado de assistência domiciliar do país se destaca o fato de possuir a maior concentração de usuários de planos de saúde. A Bradesco Saúde, por exemplo, concentra na capital paulista grande parte dos seus 800 000 segurados no Estado de São Paulo. "Os convênios médicos estão abraçando o home care com mais entusiasmo porque perceberam que reduz os custos e beneficia o paciente", afirma André Minchillo, médico responsável pela área no Hospital do Câncer - o único da rede privada que mantém parceria com uma empresa de home care, a Ideal Care.

Comparado com a internação hospitar, o home care proporciona uma redução de custos entre 30% e 60%. Num hospital de primeira linha de São Paulo, uma diária custa, em média, 800 reais. Em casa, a cifra pode cair para até 300 reais. A despesa é menor porque os recursos são otimizados. Não se paga pelo serviço de hotelaria - um dos itens mais pesados na conta hospitalar -, apenas pela assistência. "São facilidades que estimulam o aumento da demanda do home care, e todos saem ganhando", diz José Eduardo Ramão, diretor da Home Doctor. Por reduzir os custos e contar com uma grande demanda reprimida, o home care ainda vai movimentar muito dinheiro na cadeia produtiva do sistema privado de saúde. Vai aquecer as indústrias de biotecnologia, de aparelhos ortopédicos e cadeiras de rodas, a farmacêutica e a de distribuição de produtos, entre outras. Os especialistas da área são unânimes: as empresas que ingressarem nesse ramo e buscarem qualidade farão parte de um time que guiará um negócio rentável nos próximos anos.


Fonte: Revista EXAME SP Edição(05)


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